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- Victória Destefani Silveira de Souza - Apaixonada por cinema é estudante do Curso Técnico em Turismo no IFC, Campus São Francisco do Sul
Mank: um filme sobre filme que é incrível - Victória Destefani
O ano é 1930 e o cinema passa por algumas revoluções técnicas. O Mágico de Oz, lançado em 1939, foi o primeiro grande filme a cores a ser lançado em Hollywood. Mesmo assim, os filmes em preto e branco ainda dominavam o mercado, mas uma adaptação gradativa e uma adaptação mais realista dos filmes seria inevitável. Na mesma época, o cinema passava pela transição entre o cinema mudo e falado. Por mais que pareça simples, essa mudança influenciou toda cadeia de produção, inclusive a forma de se escrever os roteiros. É aí que entra o nome de Herman J. Mankiewicz, que no roteiro de Fincher é vivido por Gary Oldman.
A produção aborda a história de como o roteiro célebre de Cidadão Kane ganha vida. Se você não assistiu a Cidadão Kane, de 1941, de Welles, a produção da Netflix perde um pouco a graça. Existem, durante o filme, várias referências ao clássico, com planos que remetem ao cinema da década. Além disso, Mank traça paralelos entre o roteiro de Herman e o que ele viria a escrever. Se você não se interessa pela chamada época dourada do cinema hollywoodiano, então talvez a película não seja interessante.
Com relação a direção do filme, não há muito o que questionar. O diretor David Fincher é um gênio da produção! Filmes como Seven, Zodíaco e Gone Girl já nos indicam que Mank também seguirá a mesma premissa.
E é exatamente o que ocorre. Fincher consegue construir uma narrativa repleta de técnicas e linguagens dos anos 1930. A fotografia é estonteante, o filme possui diversos easter eggs para cinéfilos, possui as chamadas marcas de cigarros nas transições, é repleto de ângulos baixos, a forma clássica como os atores falam e se mexem, figurinos cuidadosos. É um prato cheio para quem realmente desfruta da sétima arte.
Apesar de existirem várias controvérsias em cima do roteiro de Cidadão Kane, o filme toma como verdade o que Herman viveu. A edição abusa de transições que criam flashbacks para retomar momentos do roteirista trabalhando no filme e sua vivência pessoal, criando um combate com sua ideologia e como ele utiliza isso para a construção do filme. Por ser tão recorrente, esse recurso pode vir a se tornar entediante. Mas, a genialidade de Fincher é tanta, que quando isso ocorre, ele consegue trazer um acontecimento que prende o espectador na narrativa. Como espectadora, devo admitir que o que realmente me prendeu foi ver a Hollywood de 1930 retratada com tanta fidelidade, e até mesmo a participação de Louis B. Mayer, interpretado por Arliss Howard.
A atuação de Gary Oldman é digna de Oscar, pois representa um homem cheio de monstros e conflitos, irresponsável, com sérios problemas de aceitação. Ele tem atitudes muito reprováveis, mas há nele um charme cativante e inigualável. Já Amanda Seyfried está em sua melhor interpretação da carreira. Ela encaixa perfeitamente na estética saudosista dos filmes em preto e branco, além de representar uma mulher forte. Lily Collins também é muito bem caracterizada. Arliss Howard tem cenas fortes e marcantes, assim como seu personagem. Charles Dance merece destaque pela presença de seu personagem e incrível atuação.
O paralelo entre Mank e Cidadão Kane parece funcionar muito bem, pois possuem o ar da desilusão com o sonho americano. De qualquer maneira, Mank é uma refeição completa para quem realmente admira o cinema como arte. Com certeza vale uma indicação ao Oscar, não só pela história, como também fotografia, roteiro e montagem. É uma produção que merece ser assistida e, certamente, analisada como obra de arte.
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